quinta-feira, 7 de abril de 2011

A fazenda da novela O Rei do Gado - Itapira/SP

Em julho de 2010 resolvi, juntamente com minha esposa e filha, fazer uma visita técnica numa fazenda em Santo Antonio de Posse, no interior de São Paulo. Ficamos muito felizes ao saber que nessa fazenda ainda havia a perspectiva de manter uma tradição local com uma sede imensa, uma tuia ativa, uma pequena produção de laticínios e que o turismo era algo que já fazia parte da rotina da propriedade. Ao sairmos da fazenda rumo a um caminho desconhecido, pegamos uma estradinha batida de terra e fomos parar numa porteira com uma passagem estreita que mal passava um carro. Andamos por alguns metros percebemos que logo a frente havia um casarão com um quintal imenso cercado por muros altos e rústicos. Ao nosso encontro veio um senhor segurando um latão de alumínio, um par de botas sete léguas e com um chapelão de palha na cabeça. Sua fisionomia era exaustiva e aparentava ter trabalhado muito naquele sábado ensolarado. Ele, muito simpático e sorridente, aproximou-se de nós, apresentou-se e nos convidou para conhecer a sua propriedade. Timidamente fomos entrando e acompanhando aquele senhor de 85 anos e com uma lucidez de dar inveja a qualquer um. Senhor Aluísio juntamente com sua esposa a dona Célia foram nossos anfitriões durante esse passeio improvisado.

O casarão de 1876 serviu de cenário para as gravações da novela O Rei do Gado, curiosidades e detalhes fizeram parte do tour, os móveis de época, as pinturas nas paredes, a arquitetura do século XIX, toda essa riqueza em detalhes estava ali, bem na frente dos nossos olhos sendo explicada nos mínimos detalhes pelos proprietários históricos. Primeiramente conhecemos o interior do casarão, onde foram gravadas a maioria das cenas da novela, logo em seguida fomos para o quintal conhecer o terreiro de secagem do café, o grande responsável pelo crescimento vertiginoso da fazenda nas primeiras décadas do século XX. Um pequeno museu com acervo histórico da época do café também foi montado para os visitantes terem uma noção de como era o processo de beneficiamento do ouro verde.

Ao final fomos convidados a tomar um café caipira feito na hora num fogão à lenha, rodeados de prosas e histórias daquela fazenda, minha mente remeteu-se ao passado tentando entender como tudo aquilo foi construído e o valor incalculável existente tão perto dos nossos olhos. Deixamos a propriedade rumo a Mogi Mirim com uma forte dor em nossos corações, por saber que ali existia uma enciclopédia viva e lúcida sobre a cultura e a história. Quando cheguei em minha casa corri para o computador e fui logo descarregando as fotos para mostrar a quem desejasse conhecer aquela jóia. No dia seguinte meu avô, um senhor de 84 anos, veio até minha casa fazer uma visita dominical quando falei para ele sobre a visita na fazenda, e então fui mostrar as fotos. Ele olhou, olhou e disse: Essa fazenda fica em Itapira? Respondi: sim. Ele perplexo começou a derramar lágrimas de seus olhos e disse: Eu trabalhei nessa fazenda na década de 40 durante 10 anos, beneficiei café, cacei animais, casei com a sua avó, naquele barracão eu dancei muitas vezes a “Congada” (festa típica e religiosa realizada no mês de Maio) e o Senhor Aluísio foi meu patrão. A partir dessas informações decidimos marcar uma data para irmos até a fazenda e presenciar o grande encontro do ex-patrão com o ex-funcionário. Pois bem, isso aconteceu, mas é assunto para outro dia, se você quiser, é claro. Só posso dizer que o encontro foi emocionante e teve muita prosa histórica. Assista o vídeo abaixo e sinta a emoção de voltar no século XIX.
Atualmente estou desenvolvendo um projeto para viabilizar a visitação de alunos e turistas na fazenda. As visitas são agendadas e em grupos pequenos para respeitar a privacidade dos proprietários. De qualquer forma vale a pena conhecer um pouco mais sobre os personagens que deram continuidade aos costumes do Segundo Império.

Paz e sucesso a todos.

Ed.alipio - Gestor e Turismologo
Meta: Formar indivíduos criativos, críticos e socialmente adaptáveis ao sistema